fraternidade

Capítulo 3

A fraternidade é uma categoria política? Giuseppe Tosi

A fraternidade é uma categoria religiosa e ética, ou ocupa também um lugar relevante na teoria e na prática políticas? É essa a pergunta posta por Antonio Maria Baggio e seus colaboradores na coletânea O princípio esquecido/1: a fraternidade na reflexão politológica contemporânea (Baggio, 2008b). A leitura do livro e o debate com o professor Baggio inspiraram-me estas reflexões iniciais sobre o tema, ainda muito incipientes, que apresento aqui como parte de um debate mais amplo.

1. Modernidade: secularização versus legitimidade
Para entender a fraternidade em sua dimensão política devemos, antes de tudo, estudar a história do conceito, seu aparecimento e eclipse, tema abordado com muita competência pelos estudiosos que colaboraram na coletânea.
Podemos considerar a Modernidade, segundo o filósofo alemão Karl Löwith (cf. 1991), como um longo e contraditório processo de secularização do cristianismo e, em particular, das categorias teológicas que se cristalizaram durante a Idade Media; processo que encontra seu apogeu na “morte de Deus” anunciada por Nietzsche, que inaugura a época do niilismo contemporâneo.

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Isso vale tanto para as categorias metafísicas da tradição que
Heidegger definiu como onto-teológica (cf. 1999, pp. 185-200), quanto para as categorias políticas, como defende Carl Schmitt
(cf. 2006; Idem, 2004). Desse ponto de vista, seria ilusório pensar em conseguirmos nos livrar definitivamente da influência do pensamento cristão, de seus valores, de suas coordenadas conceituais: embora secularizado, o cristianismo continua sendo o paradigma fundante do espírito do Ocidente.
Hans Blumenberg respondeu a Löwith afirmando que, se é verdade que os conceitos modernos encontram suas raízes no cristianismo e na teologia cristã, desde as sínteses patrísticas até o nominalismo tardo-medieval, é verdade também que tais conceitos se emanciparam