flaust
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A teoria proposta por Foucault, em linhas gerais, é a inversão dos paradigmas convencionais acerca da sexualidade do homem ocidental, apresentando o sexo como uma categoria discursiva consolidada nos três últimos séculos, em vez de ser a causa dos diferentes fenômenos abordados pelas práticas discursivas então vigentes. Foucault desloca o sexo de fator casual para efeito discursivo (cf. FOUCAULT, 1985, p.21-36). De acordo com a proposta teórica de Foucault, as diferentes práticas discursivas e sociais não só criaram a idéia de sexo como este passou a ser considerado componente determinante e fundamental da identidade das pessoas. O sexo passou a ser visto como um segredo a ser descoberto em toda a parte.Que formas ou práticas discursivas teriam contribuído para a construção da idéia de sexo? Praticamente todas: o discurso científico, o religioso, o discurso da lei, o discurso literário; todos representando “o sexo como algo anterior aos próprios discursos” (CULLER, 1999, p.16). Poderia então se avançar a hipótese da construção da identidade feminina fundada na categoria discursiva do sexo. Conforme Foucault, o século XVIII europeu assistiu à emergência de “mecanismos de poder para cujo funcionamento o discurso sobre o sexo [...] passou a ser essencial.” (FOUCAULT, 1985, p.26). A construção da idéia de sexo como princípio causal, como o próprio segredo da natureza humana, ajudou a criar a idéia da mulher como um ser cuja plenitude residiria em sua relação com um homem, construindo-se uma identidade nele centrada.
Na medida em que a literatura, especialmente a produzida com o advento da modernidade, fez da identidade um tema, as narrativas românticas podem ter reforçado os estereótipos de feminilidade, contribuindo para definir a mulher nos mesmos moldes propostos por outras práticas discursivas: “a literatura é um dos lugares onde [...] a idéia de sexo é construída, onde achamos promovida a idéia de que as identidades mais profundas das pessoas estão ligadas ao