Flaubert e Obras Parnasianas
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Flaubert, que era um niilista, criticou a todos na sua obra-prima: interioranos e parisienses, homens e mulheres, apaixonados e céticos. Como indicou o crítico Émile Faguet: “Havia em Flaubert um romântico que achava a realidade rasa demais, um realista que achava o romantismo vazio, um artista que achava os burgueses grotescos, e um burguês que achava os artistas pretensiosos, tudo isso envolto por um misantropo que achava todos ridículos”. O próprio escritor dava-se conta das suas contradições, das quais resultou uma obra de observação social irônica, de imaginação decorativa e estilo equilibradíssimo: “Há em mim, literalmente falando, dois homens diferentes: um que é apaixonado pela retórica, pelo lirismo, pelos altos vôos de águia, por todas as sonoridades da frase e por ideias altas; um outro, que vasculha e escava o real tanto quanto pode, que adora mostrar o detalhe de modo tão poderoso quanto o grande fato, e que gostaria de fazer com que sentissem quase que materialmente as coisas que ele reproduz”.
Desde então, Emma Bovary é um dos personagens mais debatidos da literatura universal: ora é vista como uma sofredora irremediável que não consegue romper com os laços que a prendem, ora como uma anti-heroína da estirpe de Dom Quixote (como ele, afundou-se nos livros e perdeu o pé da realidade), ora como uma resistente heroína, que insiste em sonhar a despeito do mundo que a cerca. Emma é vista também como a matriz da linhagem de personagens como Ana Karenina, de Tostói, Luísa, do Primo Basílio,de Eça de Queiroz, ou Nora, de Casa de bonecas, de Henrik Ibsen.