Filosofia ou filosofar
Para começar, propomos que nos dediquemos à clássica questão que se levanta sobre a cisão entre filosofia e filosofar. É clássico citar Kant quando se pretende defender que não é possível ensinar a filosofia, mas sim a filosofar. Para Kant, a filosofia é um saber que está sempre incompleto, pois está sempre em movimento, sempre aberto, sempre sendo feito e se revendo e por isso não pode ser capturado e ensinado: “(...) nunca se realizou uma obra filosófica que fosse duradoura em todas as suas partes. Por isso, não se pode em absoluto aprender filosofia, porque ela ainda não existe
” (Kant, 1983, p. 407).
O ato de filosofar, por sua vez, seria composto de passos conscientes na análise e crítica dos sistemas filosóficos, exercitando o talento da razão, investigando seus princípios em tentativas filosóficas já existentes. O autor estaria afirmando a autonomia da razão pura, na interpretação corrente de suas colocações. Lemos em Kant, na conhecida
Crítica da razão pura
: “Só é possível aprender a filosofar, ou seja, exercitar o talento da razão, fazendoa seguir seus princípios universais em certas tentativas filosóficas já existentes, mas sempre reservando à razão o direito de investigar aqueles princípios até mesmo em suas fontes, confirmandoos ou rejeitandoos”.
Pensamos que não podemos dizer que para Kant é possível separar o filosofar da filosofia, já que o proposto exercício da razão deve ser feito sobre os sistemas filosóficos. O professor
Guillermo Obiols, depois de analisar a passagem citada, conclui: “(...) aprender a filosofar só pode ser feito estabelecendo um diálogo crítico com a filosofia. Do que resulta que se aprende a filosofar aprendendo filosofia de um modo crítico, quer dizer, que o desenvolvimento dos talentos filosóficos de cada um se realiza pondoos à prova na