Filosofia Africana e desenvolvimento
Filosofia Africana e desenvolvimento
(Síntese de algumas reflexões preliminares apresentadas na Academia das Ciências de Lisboa em 8 de Janeiro de 2013)
Adelino Torres
Introdução
Os problemas aqui tratados referem-se tanto a alguma filosofia que
se
faz
em
África,
como
a
aspectos
do
“desenvolvimento” económico, aqui entendido no sentido mais lato.
Como bem observou Fabien Eboussi Boulaga, dos Camarões,
“o subdesenvolvimento tecnológico resulta evidentemente de um subdesenvolvimento no plano do conhecimento racional e científico”. Depois
de
rever,
num
primeiro
ponto,
conceitos
fundamentais, serão discutidos num segundo ponto alguns aspectos históricos da filosofia africana em torno do livro fundador de Placide Tempels, La philosophie bantoue, publicado em 1949 e que continua a ser objecto de debate entre filósofos africanos
Num terceiro ponto tentarei pôr em relevo certas ligações entre as ciências sociais, nomeadamente a filosofia e a
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economia que se refere ao desenvolvimento propriamente dito, destacando a necessidade urgente da sua convergência.
I - Metodologia dos conceitos
Antes de abordar o núcleo das ideias expostas mais adiante, é indispensável referir algumas questões preliminares de terminologia que são parte integrante da metodologia da análise. Em primeiro lugar a terminologia dita racialista empregue por inúmeros autores que tratam dos problemas africanos merece uma curta apreciação.
Entre as questões preliminares que se levantam a este propósito trata-se de saber porque é que se fala tão frequentemente de “filosofia negro-africana” e não, quando muito, de “filosofia africana”?
Hoje, mais de 50 anos depois das independências e com mutações substanciais no tecido social em muitas regiões africanas, certos conceitos têm uma ressonância algo insólita.
Por exemplo, na maioria dos países africanos podemos encontrar nos nossos dias – e não apenas na África