Fichas do Espaço São Francisco
Deitou bom, acordou emperrado - costas presas, pescoço duro, braço bobo. Capengou até o banheiro, achou aquela aspirina americana que era tiro-e-queda, tomou logo duas, e nada: nem tiro, nem queda. Depois do café engoliu mais duas. Nenhum efeito. De tarde foi ao médico: injeção, comprimido caro, botou a maior fé! E à noite achou que ia morrer. Morrer torto, sem entrar direito no caixão. Dia seguinte tirou todas as radiografias possíveis, e o que encontrou? Nada, apesar de tudo. No terceiro dia já estava desesperado, achando que viver daquele jeito era ainda pior do que morrer. Foi aí que a ex-sogra telefonou falando do massagista japonês que fazia milagres. Ele imaginou socos, agulhadas traiçoeiras, golpes mortais de caratê, tremeu de medo, mas quem sabe adiantava?
Socos, agulhadas, golpes de caratê, dores e dores e dores - mas não é que melhorou? Japonês mandou voltar no dia seguinte. Na porta, domo arigatô, emendou:
- E vê se pára de abusar desse fígado, que ele não é de ferro!
Fígado? Ué. Que comentário mais disparatado, pensou. Mas dormiu bem e acordou mais solto, quase bom. Japonês danadinho! Chegou lá, danadinho meteu a mão: torceu, estalou, futucou, agulhou, queimou, mandou voltar em dois dias, arigatô, reforçou:
- E o fígado, já está cuidando melhor dele?
Fígado. Que diabos queria o japonês dizer com isso? Desconcertado, foi ao Aurélio ler que "fígado é uma víscera glandular volumosa situada predominantemente no hipocôndrio direito, com pequena parte no epigástrio e hipocôndrio esquerdo, que desempenha funções tais como secreção da bílis, modificação de medicamentos, produção de glicogênio, e outras". Grande coisa. Podia estar escrito lá que isto é bom para o fígado, aquilo é ruim para o fígado, chá de boldo por exemplo ele se lembrava da tia tomar sempre e não comer gorduras nem beber álcool de jeito nenhum porque sofria do fígado. Pobre tia, morreu do coração. Mistérios. Pensava nisso enquanto jantava ovos com bacon e