fichamento
Marshall Sahlins
Se a economia é a ciência desoladora, o estudo de economias baseadas na caça e na coleta deve ser o seu ramo mais avançado. Quase todos os nossos manuais transmitem a ideia de uma vida muito dura no paleolítico, fazendo-nos indagar de como os caçadores conseguiam viver. Através destas paginas, o espectro da fome caça o caçador. Sua incompetencia técnica traduz-se num esforço contínuo de trabalho pela sobrevivência, não lhe proporcionando nem descanso, nem excedente, nem mesmo, portanto, “lazer” para “construir cultura”. Apesar de todos os esforços, o caçador atinge os mais baixos níveis em termodinâmica - menos energia per capita por ano do que qualquer outro modo de produção. E em tratados de desenvolvimento econômico ele é condenado a apresentar mau
exemplo
expresso
pela
chamada
“economia
de
subsistência”.
A sabedoria tradicional é sempre obstinada. É preciso opor-se a ela de maneira polêmica expressando, dialeticamente, as revisões necessárias. Na verdade, examinada de perto, a sociedade de caça/coleta é a primeira sociedade da afluência. Paradoxalmente, isso leva a outra conclusão útil e inesperada. Pelo senso comum, uma sociedade afluente é aquela em que todas as vontades materiais das pessoas são facilmente satisfeitas. Afirmar que os caçadores são afluentes é negar que a condição humana seja tragédia predestinada, com o homem prisioneiro de trabalho pesado caracterizado por uma disparidade perpétua entre vontades ilimitadas e meios insuficientes.
Há duas formas possíveis de afluência. As necessidades podem ser “facilmente satisfeitas”, seja produzindo muito, seja desejando pouco. A concepção vulgar, de Galbraith, constrói hipóteses apropriadas particularmente à economia de mercado: as necessidades dos homens são grandes, para não dizer infinitas, enquanto seus meios são limitados, embora possam ser aperfeiçoados: assim, a lacuna entre meios e fins pode ser