Fichamento Flusser
À parte disso, não é difícil notar que toda discussão trazida pelo filósofo carrega um questionamento ético nas entrelinhas. No ensaio “A guerra e o estado das coisas”, Flusser (2010) nos lembra de que o escritor alemão Goethe proclamava que o homem deve ser nobre, generoso e bom. Aproveitando-se de tal prerrogativa, o autor “adapta” esta premissa ao Design e, ao mesmo tempo, o coloca em cheque: “o designer deve ser nobre, generoso e bom?” (FLUSSER, op. cit., p. 23). Supomos que temos que projetar uma faca de cozinha (o exemplo de Flusser é de um cortador de papel). Deve ser uma faca nobre na medida em que seja fácil de ser manuseada, não exigindo nenhum conhecimento prévio para isso – portanto, uma faca generosa também. Sobretudo, a faca deve ser boa para cortar alimentos de maneira eficaz e sem dificuldades. No entanto, se ela for boa demais, pode cortar também os dedos de quem a utiliza. Concluímos então que o Design deve ser nobre, generoso e bom, mas não demasiado bom. E quanto aos revólveres? São objetos nobres, “elegantes e podem ser considerados típicas obras de arte contemporânea” (FLUSSER, op. cit., p. 24). São generosos também, qualquer criança analfabeta é capaz de utilizá-los. Por fim, são bons projetos de Design: não apenas matam com eficácia, como