Fichamento do Livro A filosofia da Arte - Cap III
A origem da tragédia (1872) apresenta-se como um ato de vassalagem em relação ao autor de Tristão e Isolda. Apresenta o "drama" wagneriano como um renascimento da tragédia grega. A música wagneriana, interpretada provisoriamente como um despertar "dionisíaco”, projeta uma nova luz sobre a origem da tragédia grega a descoberta do dionisíaco entre os gregos, e uma nova compreensão do trágico como pessimismo superado, o que lhe permite refutar Wagner.
Apolo e Dioniso encarnam, com efeito, duas "pulsões artísticas da natureza”. O sonho manifesta e satisfaz à pulsão apolínea, e a embriaguez a pulsão dionisíaca Apolo será, portanto, o deus da individualidade, da medida, da consciência. "Conhece-te a ti mesmo" e "Nada de excesso". A embriaguez dionisíaca, pelo contrário, rasga esse "véu de Maya" da individualidade e essa ilusão da consciência, para celebrar selvagemente a reconciliação do homem e da natureza e do espírito (na acepção de Hegel) que se encarna em obras.
A natureza, na medida em que é criação, nascimento e morte, é ela própria artista. Neste sentido, a arte encontra-se em cada coisa, como a essência de todo e qualquer "ente" A arte grega caracterizava-se, portanto, pela "ingenuidade" feliz de homens ainda em comunhão com a natureza. A nobre simplicidade e a grandeza calma dos heróis e dos deuses não passam de uma invenção ingênua. "Para que a vida lhes fosse possível, era de todo em todo imprescindível que os gregos criassem deuses." As miragens e as ilusões agradáveis da poesia épica de Homero permitiram, portanto, aos gregos, triunfar da profundidade terrífica de sua concepção do mundo e apaziguar seu sentido exacerbado do sofrimento.
A pulsão dionisíaca é primeira, e desse modo evoca os Titãs vencidos pelos deuses do Olimpo, mas só a pulsão apolínea confere seu sentido á dor dionisíaca, justificada agora pela visão apaziguadora, por essa imaginação libertadora que ela fez nascer.
A natureza, em sua essência, é contradição e dor,