Fichamento Atlântico Negro de Paul Gilroy

GIROY, Paul. O Atlântico negro: modernidade e dupla consciência. Tradução: Cid Knipel Moreira – São Paulo: Editora 34; Rio de Janeiro: Universidade Cândido Mendes, Centro de Estudos Afro-Asiáticos, 2001.

Gliroy define que a intenção desta obra é permeada por duas aspirações. A primeira é que o conteúdo deste livro seja unificado por uma preocupação de repudiar as perigosas obsessões com a pureza “racial” que se encontram em circulação dentro e fora da política negra, já que estamos dentro de um contexto de inevitável hibridez e mistura de idéias. A segunda aspiração move-se dentro do desejo e apelo contra a clausura das categorias com as quais conduzimos nossas vidas políticas, pois a história do Atlântico negro fornece um vasto acervo de lições quanto à instabilidade e a mutação de identidades que estão sempre inacabadas, sempre sendo refeitas.
O Atlântico negro modelo heurístico criado por Gliroy trata das formas culturais estereofônicas, bilíngües ou bifocais originadas pelos – mas não mais propriedade exclusiva dos – negros dispersos nas estruturas de sentimento, produção, comunicação e memória. “... os navios eram os meios vivos pelos quais se uniam os pontos naquele mundo atlântico. Eles eram elementos móveis que representavam os espaços de mudança entre os lugares fixos que eles conectavam” (Gilroy, 2001:60). Um exemplo disso é observado no documentário Na rota dos orixás, de Renato Barbieri (1998) que conta um pouco dos fluxos e refluxos culturais que modificaram não só o Brasil, mas o próprio continente africano.
Gilroy em sua abordagem afirma que uma das características mais fortes das culturas negras é o apelo às raízes. No entanto, o autor afirma que as raízes das culturas nacionais não estão necessariamente na terra, mas há que se olhar para o mar e a vida marítima, que se movimenta e cruza o oceano Atlântico, fazendo surgir culturas planetárias mais fluídas e menos fixas. “A movimentação líquida do mar envolveu tanto mistura quanto movimento”