Fernado Pessoa hortónimo
1292 palavras
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A arte poética pessoanaTeoria do fingimento – processo de criação poética
Dicotomias:
Sinceridade/fingimento; consciência/inconsciência; sentir/pensar;
A poesia do ortónimo (diferente de pseudónimo) é uma tentativa de resposta a várias inquietações que perturbam o poeta. A realidade por si percepcionada causa-lhe uma atitude de estranheza e, consequentemente, condu-lo a uma situação de negação face ao que as suas percepções lhe transmitem. Assim, Fernando Pessoa recusa o mundo sensível, privilegiando o mundo inteligível (platónico), aquele a que ele não tem acesso ("Essa coisa é que é linda", em "Isto"). Segundo Pessoa, os poetas sinceros estão confinados ao estrito convencionalismo sentimental. Um dos seus heterónimos, Álvaro de Campos, afirma “ O poeta superior diz efectivamente o que pensa. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que julga que deve sentir. Nada disto tem a ver com a sinceridade...A maioria da gente sente convencionalmente, embora com a maior sinceridade humana; o que não sente é com qualquer espécie ou grau de sinceridade intelectual, e essa é que importa ao poeta”. (Fernando Pessoa, Páginas de Estética, Teoria e Crítica Literárias)
Assim, o poeta questiona-se sobre a sinceridade poética e conclui que “fingir é conhecer-se” daí a despersonalização do poeta fingidor que fala e que se identifica com a própria criação poética, como impõe a modernidade. Lugar de destaque ocupa o poema Autopsicografia (teorizador da poética pessoana), em que se definem claramente os lugares da inteligência e do coração (sentimento) na criação artística. É assim que este poeta, possuidor de uma impressionante capacidade de despersonalização (sem contudo deixar de ser um), procura, através da fragmentação do eu ("Continuamente me estranho", em "Não sei quantas almas tenho"), atingir a finalidade da Arte, servindo-se da intelectualização do sentimento que fundamenta o poeta fingidor. Neste contexto as obras dos heterónimos