Tive uma chefe que um dia me disse que a Clara Ferreira Alves era um Pacheco Pereira de saias. Lembro-me bem da gargalhada que dei quando a ouvi dizer-me isto. Subentendi que ela não gostava dela. Ou que até gostava. Mas que não lhe achava a piada necessária para ‘a coisa’ que lhe tinha proposto fazermos, na revista. Em todo o caso, achei-lhe tanta graça - sempre gostei, aliás, da sua frontalidade - que não me esqueci deste episódio. E hoje, sempre que os oiço na SicNotícias - nos seus contextos individuais -, ou leio o Pacheco na Sábado e a Clara no Expresso, lembro-me disto. Hoje, foi também esta a imagem que me veio à cabeça quando lia o artigo de opinião do primeiro, na revista que também já foi a minha casa. Digamos que este é o parêntesis da piada antes do drama que se segue. Transcrevo: ‘Mas se o Estado pode muito e o Estado fiscal pode ainda mais, não podem tudo. Não podem fazer com que quem não tem dinheiro para pagar impostos os pague. Podem ir buscar-lhes o salário e, quando existem, as contas bancárias, os carros, as casas, tudo e mais alguma coisa, mas se não há dinheiro. Podem levar uma família ao calvário de todos os incumprimentos, podem executar tudo o que há, podem levar uma pequena empresa, ou média, ou grande, à falência, mas se não há dinheiro para pagar os brutais impostos, não há. Podem até introduzir a prisão por dívidas ou, quiçá, a escravatura por dívidas, podem pôr um polícia fiscal em cada loja, mercado, restaurante, courela, feira da ladra, mesada de pais para filhos, presente de namoro, funeral, e taxar o atravessar das ruas, mas se não há dinheiro, não há. Ponto. O Estado pode muito, pode estragar a vida a milhões de pessoas, mas não as pode fazer pagar o que não têm. Em 2013, esta vai ser a grande lição aos soberbos, ignorantes espertos, aprendizes de feiticeiros, e aos medíocres arrogantes. Infelizmente, esta lição vai sair muito cara a todos os portugueses’. A Clara Ferreira Alves propôs o boicote fiscal em massa no próximo ano (no