Falar verdade mentindo - guião teatral

FALAR VERDADE MENTINDO
CENA I
JOAQUINA (Inês), JOSÉ FELIX (Afonso) E AMÁLIA (Sara)
(Joaquina esta a preparar-se na sala de estar da suite real, quando Félix bate à porta)
Joaquina – Venha, José Félix, venha. Hoje levantou-se cedo!... Para uma pessoa como você, um criado particular de um fidalgo! Lá fora ainda não são nove horas...
José Félix – Nove horas...! O meu patrão é general, estamos de acordo; nove horas deram há muito. Mas cá em Castro contam-se as horas e os patrões de outra forma. Lá, minha querida Joaquina...é bem diferente!
Joaquina – Ai, parece que estás parvo! A província, a província... Ora isto!
Província será a terra de você, que há-de ser os Geraldos, ou a aldeia do monte cerro, ou porra que o valha. E então?...
José Félix – Basta, Mulher, basta; não te chateies, que já aqui não está quem falou. Soube ainda há pouco que tinham vindo ontem e vim reclamar o prémio de onze meses de eternas saudades. Joaquina – E você, vamos lá saber, você tem sido… fiel?
José Félix – Horrivelmente fiel! Maldição, Joaquina, maldição!...
O que eu não faço por ti e por este amor! Se soubesses…é melhor nem dizer!
Ah! tu não entendes! Nem eu, nem eu. Oh Joaquina, meu amor eterno, meu anjo, mulher, demónio! eu amo-te! Amo-te, porque...
Joaquina – Cruzes!
José Félix – Não me interrompas, não me interrompas, deixa ir! amo-te porque o meu coração está em brasa, e tenho umas veias, e estas veias... têm umas artérias... e estas artérias têm... não têm... as artérias não têm nada; mas batem, batem como os sinos que dobram pelo morto na hora em que morre! oh Joaquina,
Joaquina – Isso é comédia, ou tu estás a brincar comigo?
Pois olha: tinha uma coisa muito séria que te dizer mas como tu estás parvo, adeus!
José Félix -Vá. Faço-te mais um favor. Que queres tu de mim?
Joaquina – Meu patrão, o senhor Brás Ferreira, que é um ricaço como tu sabes, vem de propósito a Castro para casar a menina. É uma filha única, e morre por mim, coitada! É um
anjo!