Excel
Senhor, posto que o capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a noticia do achamento desta Vossa terra nova, que agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que - - para o bem cantar e falar - - o sabia pior que todos fazer!
A partida de Belém foi - - como Vossa Alteza sabe, segunda-feira 9 de março. E sábado, 14 do dito mês, entre 8 e 9 horas, nos achamos entre as Canárias, mai perto da Grande Canária. E ali andamos todo aquele dia em calma, à vista delas, obra de três a quatro léguas. E domingo, 22 do dito mês, às dez horas mais ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo Verde, asaber da ilha de São Nicolau, segundo o dito de Pero Escolar, piloto.
Domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão de ir ouvir missa e sermão naquele ilhéu. E mandou a todos os capitães que se arranjassem nos batéis e fossem com ele. E assim foi feito. Mandou armar um pavilhão naquele ilhéu e dentro levantar altar mui bem arranjado. E ali com todos nós outro fez dizer missa, a qual disse o padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres sacerdotes que todos assistiram, a qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção.
Segunda-feira, depois de comer, saímos todos em terra a tomar água. Ali vieram então muitos; mas não tanto como as outras vezes. E traziam já muito poucos arcos. E estiveram um pouco afastados de nós; mas depois pouco a pouco se misturaram-se conosco; e abraçavam-nos e folgavam; mas alguns deles se esquivavam logo. Ali davam alguns arcos por folhas de papel e por alguma carapucinha e por qualquer coisa. E de tal maneira se passou a coisa que vinte ou trinta pessoas das nossas se foram com eles para onde outros muitos deles estavam com moças e mulheres. E trouxeram de lá muitos arcos e barretes de penas de aves, uns verdes, outros amarelos,