As anemias microcíticas e hipocrômicas mais comuns em nosso meio são a anemia ferropriva, anemia de doença crônica e talassemia menor.1 As talassemias são anemias hereditárias causadas por uma deficiência parcial ou completa da síntese de cadeias globínicas e constituem os distúrbios genéticos mais comuns e simples no mundo inteiro, causando um grande problema de saúde pública. Uma estimativa disponível indica que 250 milhões, correspondentes a 4,5% da população mundial, são heterozigotos para um defeito no gen da globina.2,3 Além da alteração na síntese de cadeias globínicas, os distúrbios no metabolismo do ferro também são causas de anemia microcítica e hipocrômica, sendo, neste caso, a anemia ferropriva e anemia de doença crônica aquelas mais freqüentes. A deficiência de ferro é a mais comum das alterações nutricionais na infância, não apenas nas nações em desenvolvimento, mas também em países altamente industrializados.4 Os números são assustadores, uma vez que 2 bilhões de pessoas (em torno de 30% da população mundial) são anêmicos, principalmente devido à deficiência do ferro, situação freqüentemente exacerbada pela malária e doenças parasitárias em países em desenvolvimento.5 Além disso, a deficiência do ferro possui importante impacto funcional em humanos por levar a alterações na resposta imunológica, incluindo a diminuição da atividade bactericida dos neutrófilos e do número de linfócitos, alteração no metabolismo de hormônios tireoidianos, alteração na função do músculo liso e estriado, alteração no comportamento e, também, conseqüências econômicas, tais como menor habilidade cognitiva nas crianças e diminuição da capacidade de trabalho em adultos.6-9 Finalmente, a anemia de doença crônica, considerada, em parte, como um defeito no metabolismo do ferro,10 apresenta três grandes causas clínicas: infecção, inflamação e neoplasia, que são responsáveis por 75% dos casos.11 A anemia de doença crônica é a anemia mais freqüente em pacientes hospitalizados.12,13