Etnografia da Comunicação
Ana Isabel Rodrigues Alhadeff2
“O eu é um outro”
Fernando Pessoa
Como a escrita entrou na minha vida? Essa pergunta nunca me foi feita e ao ser questionada sobre tal fato, passei muito tempo observando a folha em branco sem saber como respondê-la. Finalmente quando comecei a redigir o texto compreendi que a escrita ainda não entrou definitivamente em minha vida de modo “singular” como aponta Riolfi (2011). Isso porque creio que a capacidade da escrita é um aprendizado constante na vida de toda pessoa que se propõe a esse desafio.
Lembro-me de uma infância e adolescência muito ligada a iconografia e a tradição da fala. Fui e ainda sou uma pessoa comunicativa, para quem a fala tem lugar especial, e a atividade da escrita como já dito nos textos lidos durante a disciplina é um ofício solitário (Riolfi, 2011), assim como a leitura, primeiro passo, na minha opinião, para ser um bom escritor. Sendo assim, durante a maior parte da minha vida a escrita não esteve presente de forma contínua.
Na vida escolar de um modo geral, a leitura ou a escrita não foram processos marcantes ou traumáticos, eles simplesmente não deixaram lembranças que eu possa relatar aqui. Lembro de escrever redações dos mais diversos assuntos, mas sem destaque.
Dentro da família, tampouco tenho lembranças de momentos de escrita de minha mãe ou meu pai. A única lembrança que me marca ao longo da relação com o aprendizado era o terrível medo de errar e receber críticas de meu pai ou minha mãe. Aqui apresento um paradoxo, já que acabo de afirmar que não me lembro de meus pais escrevendo ou me incentivando a tal, mas quando falhava era criticada por eles.
Sempre se fala da necessidade do exemplo aos filhos no incentivo à leitura e à escrita, mas a despeito do exemplo, pais cobram seus filhos os resultados dos investimentos feitos na vida escolar. Desse modo, posso atribuir o meu “medo” da escrita à insegurança que o “medo” de falhar me trazia. O fato é que