Etica
Capitulo 1
É possível viver sem saber astrofísica, marcenaria, futebol e até mesmo sem saber ler e escrever: vive-se pior, decerto, mas vive-se. No entanto, há outras coisas que é preciso saber porque, por assim dizer, são fundamentais para nossa vida. Podemos viver de muitos modos, mas há modos que não nos deixam viver.
Em resumo, entre todos os saberes possíveis existe pelo menos um imprescindível: o de que certas coisa nos convém e outras não, o que nos convém costumamos dizer que é “bom” e, o que não nos convém dizemos que é “mau”. Saber o que nos convém é um conhecimento que todos nós tentamos adquirir pela compensação que nos traz. Há coisas boas e más para a saúde, elas nos convém a ao mesmo tempo não nos convém. No terreno das relações humanas, essas ambiguidades ocorrem com maior frequência ainda. A mentira não nos convém, é má, mas às vezes parece acabar sendo boa.
Saber viver não é tão fácil, pois é preciso lidar com diversos critérios opostos. A primeira vista, a única coisa com que todos nós concordamos é que não concordamos com todos.
Por maior que seja a pressão dos outros sobre ele, sempre poderá escapar do que se supõe que deva fazer: não está programado para ser herói, nenhum homem esta.
Chegamos assim à palavra fundamental de tosa essa confusão: liberdade. Os animais (sem falar nos minerais ou nas plantas) não tem outro remédio senão ser como e fazer o que estão naturalmente programados para fazer. Não se pode repreende-los ou aplaudi-los pelo que fazem, pois não sabem comporta-se de outro modo. E, de maneira menos imperiosa, mas bem parecida, nosso programa cultural é determinante: nosso pensamento é condicionado pela linguagem que lhe dá forma (uma linguagem que nos é imposta de fora e que não inventamos para nosso uso pessoal) e somos educados dentro de certas tradições, hábitos, formas de comportamento, lendas...; em resumo, desde o berço nos são inculcadas certas fidelidades e não outras. Tudo isso pesa muito e faz com