etica
Mario Sergio Cortella - É impossível, numa conversa que envolve o tema da corrupção, deixa~ de atrelar a ele a questão do relativismo moral, da ética da conveniência - "se é bom para mim, tudo bem". Gostaria de iniciar este nosso bate-papo lembrando um fato que ocorreu no final de 2012, em Navarra, Espanha, e que tomou proporções consideráveis ao ser divulgado.
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Em uma corrida de çross-country, o queniano Abel
Mutai, medalha de ouro nos três mil metros com obstáculos em Londres, estava a pouca distância da linha de chegada e, confuso com a sinalização, parou para posar para fotos pensando que já havia cumprido a prova. Logo atrás vinha outro corredor, o espanhol Iván Fernández Anaya. E o que fez ele? Começou a gritar para que o queniano ficasse atento,
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mas este não entendia que não havia ainda cruzado a linha de
mãe dele. Ela chega, com a bolsinha no braço, e diz: "Sai daí,
chegada. O espanhol, então, o empurrou em direção à vitória.
menino!". E ele sai.
Bom, afora o ato incrível de Jair play, há uma coisa
É por isso que considero
essa ideia da matriz
do
maravilhosa que aconteceu depois. Com a imprensa inteira ali
desavergonhar uma coisa extremamente inspiradora para que
presente, um jornalista, aproximando o microfone do corredor
jamais venhamos a adotar isso a que me referi como ética da
espanhol, perguntou: "Por que o senhor fez isso?". O espanhol
conveniência. Você percebe isso, Clóvis?
'?" El e não h avia entendido a pergunta rep 1·
ICOU: "I sso o que..
- e o meu sonho é que um dia possamos ter um tipo de vida comunitária em que a pergunta feita pelo jornalista não seja mesmo entendida -, pois não pensou que houvesse outra coisa a ser feita que não aquilo que ele fez. O jornalista insistiu: "Mas por que o senhor fez isso? Por que o senhor deixou o queniano ganhar?". "Eu não o deixei ganhar. Ele ia ganhar". O jornalista continuou: "Mas o senhor podia