Ethos
1.1 O conceito de Ethos
O conceito de ethos se formou, na Grécia antiga, pela transliteração de dois vocábulos cuja origem se encontra já no primeiro e grande texto literário da antigüidade e fundador da civilização grega, os poemas épicos de Homero intitulados Ilíada (capítulo VIII, páginas 408, 422). Embora um não englobe ou reduza o outro, a articulação desses dois vocábulos construiu o significado amplo do termo ethos ao longo da antigüidade grega e está na base da composição do termo ética.
Veja as duas dessas matrizes da noção de ethos:
Éthos (ήθος) - com “eta” inicial, vogal longa (é), designa inicialmente “morada do homem, lugar de estada permanente, abrigo protetor” (ERMOUT; MEILLET, 1994, adaptação). Nessa primeira acepção, o ethos indica o espaço no qual o homem imprime sua “marca” pela afirmação de sua razão (logos [λόγος]). Essa noção primitiva do ethos remete, assim, à idéia de um espaço constituído e ordenado pelo homem segundo sua razão. O ethos indicará, nesta primeira expressão, um espaço construído e permanentemente reconstruído pelo homem, espaço no qual serão inscritos os costumes, hábitos, valores, normas e ações. Esta ordem geral à qual se refere o ethos é denominada costume, maneira de ser habitual, comum a um determinado grupo humano.
Êthos (έθος) - com “épsilon” inicial, vogal breve (ê) - diz respeito ao comportamento que resulta de um constante repetir-se dos mesmos atos, mas não de forma necessária, maneira habitual de agir (ERMOUT; MEILLET, 1994, p. 407-408). É o que é feito de modo freqüente ou quase sempre, mas não sempre, nem em virtude de uma necessidade natural. Portanto, o ethos irá assinalar, desde o princípio, uma oposição à “physis” (φύσις), isto é, àquilo que significa ao mesmo