Enrtevista
1508 palavras
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Quando pisou no palco pela primeira vez, aos 17 anos e num teatro de igreja no bairro do Brás, em São Paulo, Flávio Migliaccio deveria ser um idoso sério. “Eu entrava com uma bengala, mas ela entrou num furinho no chão e foi parar lá embaixo. A plateia riu”, lembra o ator, 60 anos depois, do alto de uma carreira marcada pela comédia. “Passei, então, a sempre procurar esse furinho em cena.”Nem sempre, é verdade, o tal furinho apareceu fácil. O primeiro papel profissional, por exemplo, não poderia ser mais trágico – um morto. Mas se faltou graça em cena, ela sobra agora na história que ficou para contar. “Consegui o papel depois de um teste de meia hora com o diretor. Fiquei tão feliz! Minha mãe até chorou! Mas, no dia seguinte, fiquei sabendo que o papel era o morto. Perguntei ‘e vou morrer como?’, já pensando em como faria a cena, mas que nada – já começava morto”, conta ele, entre o lírico e o cômico. “Era no Teatro de Arena, e eu tinha de ficar imóvel com o espectador a um metro e meio de mim, com pulga me mordendo o tempo todo! Tem ideia do que é isso? Fiz esse morto durante três meses com tanta vontade, que acho que é por isso que estou aqui até hoje.”
E ele está aí, à beira dos 78 anos, como um dos poucos atores que mal conseguem folga do vídeo. De sucessos como o seriado Shazan, Xerife e Cia (1972), no qual fazia dupla com Paulo José; o protagonista de Aventuras do Tio Maneco (1978); o Tio Vitinho de A Próxima Vítima (1995), ao Chacha de Caminho das Índias (2009) e o Fortunato de Passione (2010), emendou um trabalho atrás do outro até chegar ao Seu Chalita do seriado Tapas & Beijos, sucesso há duas temporadas nas noites de terça na Globo. “Queria ficar com esse personagem pelo resto da vida”, diz ele, nesta conversa, num dos camarins da cidade cenográfica montada para o seriado no Projac, no Rio, em que ele repassa a carreira e reflete sobre a profissão de ator. “Tenho dificuldade de me transformar no personagem. Então, faço o contrário – que o