Energia renovável e alimentos
A Corrida dos Biocombustíveis
O Brasil começou uma contraofensiva em relação às medidas da União Europeia (UE) para certificar os agrocombustíveis, que podem levar a barreiras à importação de combustíveis procedentes do país, que é o primeiro produtor mundial de etanol obtido da cana-de-açúcar. As normas de certificação da UE para o etanol e o biodiesel vegetais pretendem assegurar que representem uma redução substancial de gases-estufa – em relação aos combustíveis fósseis – e que não provenham de florestas, mangues, nem áreas protegidas.
Estes requerimentos são parte da implementação da Diretriz de Energia Renovável do bloco, que entrará em vigor em dezembro deste ano. “Associar a produção de biocombustíveis com o desmatamento da Amazônia é uma falta de conhecimento da realidade brasileira, uma atuação protecionista e sem base científica”, afirmou ao Terramérica o pesquisador Robert Michael Boddey, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Os europeus devem entender que Brasil não é Holanda, Bélgica ou Portugal. “O que sobra aqui é terra”, explicou Robert, acrescentando que “embora os canaviais se multipliquem e tenha sido necessária a migração de alguns cultivos, não significa que o desmatamento vá aumentar”. A ampliação da produção de cana, matéria-prima do álcool combustível, ou etanol, ocorre somente em três Estados distantes da Amazônia: Goiás, Mato Grosso do Sul e São Paulo, onde os canaviais ocupam terras de pastagem.
Em algumas regiões do Brasil a proporção é de uma vaca para um estádio do tamanho do Maracanã, no Estado do Rio de Janeiro. “Podemos colocar mais quatro vacas nesse mesmo espaço”, ressaltou o pesquisador. “Dessa forma, teríamos quatro Maracanãs a mais para os canaviais. Imaginem se fizermos isso com mil vacas. Os europeus não entendem estas proporções”, disse. A prova é que o ritmo do desmatamento amazônico está caindo no Brasil desde 2005, acrescentou.
Cid Caldas,