Em busca da vida e o espaço em mutação
Em Busca da Vida e o espaço em mutação
Por Johnatan Max Ferreira
É sobre as águas que “Em Busca da Vida” (Sanxia Haoren, 2006) começa. É sobre o rio que muda, que corre e que passa incansável. Em planos sequências que percorrem o interior de uma barca, a câmera registra as pessoas nesse meio transitável. Jia Zhang Ke já estabelece o tom do filme desde o início. O sentimento de perda preenche a tela de forma natural, auxiliado por uma trilha que evoca tempos passados. Mas agora é a vida cercada de televisores e interesses monetários que impõe valores. E assim como a barca que desliza para frente, o longa de certa forma registra o mesmo processo em toda a sua duração. Trata-se muito do progresso que invade e toma conta dessa nova China que clama por ascensão econômica mas que está longe de ouvir todas as vozes que acolhe em seu território.
Desde os seus primeiros filmes, Jia Zhang Ke expõe suas preocupações acerca da memória e das transformações que a China contemporânea passa. Expondo não só o desenvolvimento do país, mas também diversas implicações que essa evolução acarreta, da degradação ambiental às lembranças que são soterradas no procedimento. Filmando em formato digital, o diretor consegue conciliar uma plasticidade belíssima dos planos que concebe, a uma contemplação que respeita o ambiente filmado numa composição da mise-em-scene fantástica. Voltando-se muitas vezes para o social e para a população chinesa, Zhange Ke tenciona o ficcional e o documentário, tentando extrair daí vislumbres que extrapolam o registro do cotidiano.
Ambientando-se na China contemporânea do século XXI, o filme tem como pano de fundo a construção da barragem de Três Gargantas, a maior represa do mundo. A edificação hidroelétrica gerou várias discussões de cunho ambientais, uma vez que deslocou milhares de habitantes e soterrou inúmeros territórios. A gigantesca obra trouxe diversas consequências para a população chinesa assim como profundas modificações