Ed Fisca
Hoje em dia, nas grandes cidades, vivendo o dilema entre o ser e o ter, as pessoas, sobretudo os jovens, estão optando por viver o estar. E, se isso for considerado em termos do espaço, o trajeto é o lugar e o tempo da noite é o principal local do lazer, que já começa na “pré-night”, no posto de gasolina, com o fenômeno do nomadismo, que esvazia equipamentos a partir do toque de um celular, chamando para a “boa” do outro lado da cidade.1 Por outro lado, os equipamentos não podem ser vistos apenas da única perspectiva de centros de consumo, como muitas vezes acontece com os shoppings centers,2 mas nas suas múltiplas possibilidades de signifi cados atribuídos pela população. E é impossível negar a importância do tema, quando se trata do lazer, pois, se as duas circunstâncias que caracterizam essa manifestação humana são as de tempo e atitude, elas supõem a existência de um espaço real ou virtual. Embora reconheçamos o grande vulto que vem ganhando o espaço virtual, fi caremos restritos, neste texto, à relação entre lazer e espaço urbano. Porém, a dimensão que o espaço toma aqui é ainda maior, porque se trata do acesso a ele, e ligado à política urbana.
O lazer é entendido aqui “como a cultura – compreendida no seu sentido mais amplo – vivenciada (praticada ou fruída), no ‘tempo disponível’.
É fundamental como traço defi nidor, o caráter ‘desinteressado’ dessa vivência. Não se busca, pelo menos basicamente, outra recompensa além da satisfação provocada pela situação. A ‘disponibilidade de tempo’ signifi ca possibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa”.3
A noção de cultura deve ser entendida em sua acepção ampla, consistindo
“num conjunto de modos de fazer, ser, interagir e representar que, produzidos socialmente, envolvem simbolização e, por sua vez, defi nem o modo pelo qual a vida social se desenvolve”.4