ecologia
Um dos livros que fizeram isso comigo foi Depois Daquela Viagem, da escritora Valeria Piassa Polizzi. Ele, uma das primeiras autobiografias com que tive contato, tratava do cotidiano dela quando jovem, com todas as agruras e delícias normais de alguém prestes a entrar na fase adulta, mas com um diferencial: ela é portadora do vírus HIV, e falava também do impacto que descobrir essa condição trouxe para sua vida.
Sua narrativa – de vocabulário simples e ritmo ágil – poupa quase nada: há relatos sobre o seu primeiro namorado, bastante abusivo (e responsável por lhe transmitir o vírus), o peso que a notícia trouxe para sua família, a relação da moça com seu próprio corpo, a descoberta sobre as características da doença e seus tratamentos, e ainda aborda o preconceito sofrido por soropositivos. Considerando isso, seu relato ganha pontos a mais pela coragem de Valeria em mostrar a cara e emprestar sua voz de paciente à sociedade – que era ainda mais preconceituosa quando a obra foi lançada, em 1996, graças à falta de informação sobre o HIV e a AIDS.
Por outro lado, não é como se Valeria se apoiasse nos acontecimentos mais tristes, ou como se houvesse uma atmosfera trágica no ar. Pelo contrário: embora haja algumas reflexões – e também a certeza um pouco agridoce de que terá que levar a vida de um jeito diferente em vários modos -, a autora expõe sua vontade de fazer muito mais em seu futuro. E é com empolgação e carinho que ela descreve as pessoas que conhece quando parte em intercâmbio nos EUA, os choques culturais, os possíveis enlaces amorosos, a redescoberta do amor próprio e também a relação com seus