Dos fetos engolidos e escondidos: um comentário sobre o apoio de parteiras ribeirinhas ao aborto.
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FLEISCHER. Soraya. Dos fetos engolidos e escondidos: um comentário sobre o apoio de parteiras ribeirinhas ao aborto. Brasília, 2012. “(...).” (p. 1685) “(...). Aqui, trago o cenário semirrural, ribeirinho e amazônico do país, onde mulheres negras e indígenas com poucos anos de escolarização também se deparam com momentos em que a gravidez se interrompe. (...).” (p. 1685) “(...). Em geral, é comum envolver pessoas próximas nas etapas do aborto – a decisão, as técnicas, a recuperação, etc. (...). Diante do aborto, elas contavam com a presença de “parteiras”, “aparadeiras” ou “pegadeiras de menino”, como eram chamadas.” “Nas primeiras vezes em que visitava e/ou conversava com as parteiras, quando a relação de confiança ainda estava por ser construída, ouvia posições contrárias ao aborto: “Eu nunca dei remédio para mulher nenhuma” (D. Nicole), “Eu não condeno quem faz. Quer fazer, faz. Mas eu acho muito feio uma mulher que aborta” (D. Tânia). (...).” (p. 1685) “Outros estudos apontam na mesma direção: se as parteiras negam a participação no discurso, sua presença nos abortos fica clara na prática cotidiana. Assim, mesmo mantendo uma posição moralmente contrária, o que me parece importante é a oferta de apoio. (...).” (p. 1685) “Não dar remédio ou achar feio quem faz um aborto não quer dizer que não se receberá e se escutará uma mulher que considera a possibilidade de interromper sua gestação. Nem quer dizer que não se sugerirá o que usar para realizar tal ato. Nem tampouco que não se irá até a casa dessa mulher, na madrugada seguinte quando ela estiver enfrentando uma hemorragia insistente. (...). Mas a parteira pode ajudar, sim, depois do aborto. (...).” (p. 1685, 1686) “(...). Engolir era a expressão local que correspondia a abortar e o fato de as parteiras saberem quem, quando e como os fetos haviam sido engolidos indica como estavam presentes, sobretudo na fase puerperal, cuidando da hemorragia e da recuperação da mulher. (...). Nos casos engolidos,