Dona yaya
Eu sou Dona Yayá, mogiana de uma antiga família terra tenente paulista, de grande valimento em Mogi das Cruzes. Meu pai tinha 53 anos quando nasci. Minha família foi marcada por uma série de calamidades: uma das minhas irmãs morreu asfixiada aos 3 anos, pela ingestão de um objeto em seu berço. Mamãe a impediu de ver a procissão de São Benedito pela janela da nossa casa e colocou-a em seu berço. Enquanto mamãe costurava minha irmã engoliu um botão. Muitos alegam que ela se engasgou com uma pipoca devido ao fato de que em seu tumulo, a flor que o bebe segura, parece uma pipoca. E sim, minha irmã, é a menina da pipoca.
Outra irmã morreu aos 13 anos, de tétano, ao espetar-se num simples espinho de laranjeira. Em 1899, meus pais adoeceram e morreram com um intervalo de apenas 2 dias, em lugares diferentes e sem que sequer soubessem da doença um do outro. Ainda pequena e órfã com meu único irmão sobrevivente, Manuel de Almeida Mello Freire Junior, com 17 anos, fomos tutelados por Albuquerque Lins - que mais tarde viria a ser Presidente do Estado de São Paulo.
Manuel entrou na faculdade de direito, e eu ingressei no Colégio Sion, onde conheci minhas amigas que me acompanharam na vida adulta nos momentos mais difíceis. Em 1905, durante uma viagem de Manuel a Buenos Aires, no paquete Orion. Se jogou ao mar após um segundo surto psicótico
E assim me tornei a única sobrevivente de uma família de sete pessoas. Única herdeira de uma fortuna fabulosa. Levei a vida das pouquíssimas filhas da ponta da pirâmide social paulista, cercada do maior luxo que o dinheiro poderia comprar. Recebi as amigas dos tempos do Sion para saraus no meu palacete da R. Sete de Abril, passeei pela cidade em um dos meus dois automóveis - numa época em que esse meio de transporte era uma raridade disponível às pessoas extremamente ricas. Tinha em casa um estúdio fotográfico completo, pois a fotografia era um de meus hobbies. Também gostava de viajar a passeio, passei seis meses na Europa