DONA PANDORA
A voz do médico soava cadenciada, irritava de mais Dona Pandora. Uma mulata que já não apresentava um corpo tão curvilíneo. Sua pele já não lembrava a cor do cacau. E aquele calor constante dava-lhe a sensação que seu cheiro tão atrativo já desapareceu.
O resultado da primeira investigação acusou um cisto, e mesmo com o tratamento seguido a risca os sintomas persistiam. Outra tomografia ....e os sintomas insistiam.
Uma cliente até sugeriu que tomasse um desses shakes milagrosos, ao menos uma vez por dia, garantindo que teria mais disposição para trabalhar, menos sono, e até aquele mal estar que lhe acompanhava à meses desapareceria.
Mês após mês e os sintomas só aumentavam. Os palpites que iam desde receitinhas caseiras, rezas e até benzimentos já sem esgotou. Valia tudo para resolver o problema de Dona Pandora, essa pessoa tão querida.
Teve uma que até sugeriu que Dona Pandora talvez devesse arrumar um...um...namorado.
-Tá louca! Dona Pandora depois que enviuvou há dez anos, só faz pensar em suas filhas, ir à igreja e cuidar de sua mãezinha.
-Vê-lá! Como ousa pensar nisso?
Dona Pandora que cuidava das unha de suas clientes, deixando-as tão lindas com força de levantar o astral por pior que fosse, naquele momento, roía as suas desesperadamente. Tremia.
Naquela sala em tom de névoa, o relógio não andava. Aquele maldito tic..tac..tic..tac.. soava como passos de alguém se aproximando.Fitava o crucifixo, ao alto, de braços abertos pronto para acolhê-la. Tudo ocorria de forma infinita.Voltou seu olhar para Doutor Jacinto, gritando por um fio de esperança. E aquele senhor de barbas brancas, jaleco branco, mais parecia um anjo envelhecido.
- Meu Deus, acho que vou morrer! Isto aqui esta parecendo o purgatório. Aquele tempo de decisão entre o céu e o inferno,