Dogmatismo
A proposta inicial do texto é de primeiro compreendermos o sentido deste comportamento dogmático e, segundo, as razões da transição deste comportamento para um posicionamento de atitude crítica/filosófica.
Este comportamento dogmático, chamado Par Husserl de ‘postura natural’, pode ser entendido como: “a concepção da realidade própria a este viver natural, metafisicamente ingênuo, desprovido de um sentido mais profundo de problematização” (P.55). Neste comportamento aceita-se o mundo como ele se apresenta, sem superar a superficialidade, a aparência, o senso comum, sem que haja uma postura filosófica de análise, crítica e reflexão sobre esta realidade e sua legitimidade. E pior, o individuo dogmático não tem consciência de que se encontra neste estado. Tal estado de dogmaticidade se apropria de nós ainda na infância, quando aceitamos a realidade sem questioná-la, quando possuímos fontes (nossos pais) de verdades “irrefutáveis”. Neste sentido de segurança absoluta próprio do mundo infantil é que encontra sua raiz o comportamento dogmático, defende Bornheim, que também nos alerta para o fato de que sempre que ocorre uma exceção a esse comportamento, isto é um questionamento, e este se volta somente para aspectos que não abalam a totalidade da realidade, não houve ruptura com a dogmaticidade, pois a compreensão implícita do mundo continua não problematizável.
Esta compreensão implícita que me referi é chamada por Husserl de tese geral, que pode ser explicada, ou melhor, especificada, em uma tríplice dimensão:
- Gnosiológica: aqui o individuo pensa poder conhecer o mundo, a realidade, e tal nenhuma resistência lhe oferece. Esta não é uma conclusão que provém do uso da razão, da lógica, é crença, um ato de fé. Neste caso o homem vive em um mundo pronto, de ideias feitas, sem problematizá-lo.
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