Do Silêncio ao Orgulho: O papel da narrativa na inserção política e cultural das Comunidades Remanescentes de Quilombos.”
Comunidades Remanescentes de Quilombos.”
BEATRIZ HOCHMANN BÉHAR*
Durante o século XX, alterou-se profundamente a forma de se conceber a escrita da
História e a responsabilidade dos atores sociais na eclosão dos fenômenos históricos ao redor do mundo. A partir dos novos rumos da disciplina, historiadores brasileiros passaram a lançar um olhar historicizante para os eventos históricos aqui produzidos, levando em conta uma pluralidade de fatores para então, recontar a formação de nossa sociedade. Seguindo esta corrente, nas últimas décadas podemos observar uma significativa releitura de temas, que traz à tona a intensa participação de novos agentes até então tratados como personagens passivos da história. Esta discussão transcendeu a esfera acadêmica e chegou aos debates políticos, fazendo surgir uma preocupação por parte do Estado em compensar grupos sociais que, de alguma forma, estiveram à margem da história do país e de políticas públicas voltadas para a solução de suas necessidades, além de reconhecer as suas contribuições, e de seus antepassados, à formação da sociedade e cultura brasileiras e, em um esforço de reconstrução da idéia de brasilidade, absorver e preservar estas contribuições sob forma de patrimônio nacional. Sendo um, entre tantos temas que passaram por uma profunda revisão, a nova forma de ver a escravidão ressignificou o papel do negro na história bem como alterou substancialmente as concepções acerca da abolição e, aliado a um crescente movimento negro engajado em lutas políticas, fez surgir uma busca institucional por compensações para os descendentes de comunidades negras identificadas como remanescentes de quilombos.
O uso do termo segue, aqui, a mesma ressemantização dos textos legais, indicando comunidades autônomas, essencialmente agrícolas, criadas no pós abolição para garantia da sobrevivência de pessoas unidas por uma identidade