Direito da infância e juventide
Para proteger as vítimas, o Globo Repórter preservou a identidade delas. Os rostos não aparecem nas imagens e os nomes foram trocados.
Caminho estreito ou de sombra, não importa. Ela é criança, guarda à chave seu tesouro. Amiguinhas? Não são muitas. Moleca trapezista. Quem sabe, solta no ar, de ponta à cabeça, Anita se esquece do peso de sua história? A mãe é prostituta no Paraguai e o pai...
“Não quis ficar com meu pai porque ele mexeu comigo. Eu tenho vergonha de contar”, diz a menina, segurando as lágrimas. “Um dia de noite, eu estava dormindo. Ele foi na minha cama e fez tudo o que ele queria fazer. Eu ficava gritando, mas não tinha ninguém em casa. Ele tirou a minha roupa e a dele também. Não adiantou. Eu gritava e não tinha ninguém por perto. Quando me lembro disso sinto uma dor por dentro”.
“Eu queria ter outro pai. Queria que ele fosse bonzinho, porque ele era muito safado”, desabafa Anita.
Anita escapou do pai no Brasil. A mãe ajudou, mas ela mora em um bordel e não pode ficar com a filha. No exílio, o feio, na mão de Anita, fica belo. Guarani é a língua oficial do Paraguai. Um abrigo em Ciudade del Leste é, agora, a casa de Anita.
“Agora vou vai ficar aqui até crescer. E quando eu crescer, vou ficar com a minha mãe. Vou arrumar uma casa para ela morar comigo”, sonha a menina.
A primeira imagem que se tem da infância é um pequeno mundo encantado. De verdade ou imaginário, o que se espera é que seja um santuário de pura inocência. O lugar sagrado de proteção e afeto. Mas ao abrir os olhos para a vida, muitas crianças experimentam, em vez de sonho, um pesadelo, com bicho-papão de carne e osso. Personagens paternos no papel de monstros.
Uma mãe diz que viu esse drama no quarto das próprias filhas.
“Eu acordava e ia direto ao quarto dos bebês. Algumas vezes eu o peguei sentado na cama da mais velha, de um ano e meio, passando a mão nela, um tanto ofegante. Uma vez eu questionei isso e ele me acusou de ter a mente suja, disse