Desumanização e Coisificação do outro

* Negra, historiadora, assessora de gênero da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (Fase), professora do Curso de Relações Internacionais da Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro. Conselheira do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher como representante da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB).
17Proposta No 88/89 Março/Agosto de 2001
AApprreesseennttaaççããoo
No que diz respeito ao debate sobre as desigualdades étnico/raciais no Brasil, acredito que apenas algumas poucas vezes tivemos a oportunidade de tão intensa e variadamente discutir, analisar, expor e consolidar argumentos, articular grupos, defender interesses, buscar consensos e conviver com a sua falta como neste último ano. Para aqueles que não estão acompanhando o cotidiano desta movimentação importa mencionar dois fatos de conteúdo históricos a contribuir para este cenário. Primeiro, a passagem oficial dos 500 Anos do Brasil e as manifestações críticas em torno deste acontecimento. Segundo, a convocação das Nações Unidas para a realização da III Conferência Mundial Contra o Racismo, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância acompanhada por uma mobilização nacional voltada a internalização da agenda proposta e, ao mesmo tempo, qualificação da participação brasileira no evento. Este esforço em qualificar a participação brasileira na III Conferência tem sido, por exemplo, um explícito objetivo de um expressivo conjunto de organizações de mulheres negras. Do ponto de vista político-organizativo e conteúdo temático da III Conferência, é possível dizer que, para as organizações de mulheres negras, qualificar a participação brasileira significa, por exemplo: reafirmar aos demais setores organizados da sociedade brasileira a sua existência como grupo instituído de demandas e estratégias específicas; demonstrar, mais uma vez, às demais organizações do movimento seu potencial de agregar e consolidar abordagens que enriquecem as críticas sobre desigualdade racial no Brasil; e,