Desafio
Divisão do Trabalho Social e Direito
Émile Durkheim
Embora a divisão do trabalho não seja de ontem, foi somente no fim do século passado que as sociedades começaram a tomar consciência desta lei que, até então, sofreram quase sem saber. Sem dúvida desde a Antigüidade vários pensadores aperceberam-se da sua importância: mas foi Adam Smith o primeiro a tentar enquadra-la teoricamente. Foi, aliás, ele quem criou a expressão, que a Ciência Social mais tarde emprestou à Biologia.
Hoje este fenômeno generalizou-se a um tal ponto que se torna evidente para todos.
Não há já ilusão possível acerca das tendências da nossa indústria moderna; ela assenta cada vez mais em potentes mecanismos, em grandes juntos de forças e de capitais e, por conseqüência, na extrema divisão do trabalho. Não somente no interior das fábricas as ocupações se separaram e se especializaram infinitamente, como cada manufatura é, ela própria, uma especialidade, que supõe outras. Adam Smith e Stuart Mill esperavam ainda que pelo menos a agricultura fosse exceção à regra, e viam nela o último reduto da pequena propriedade. Embora em semelhante matéria seja preciso precavermo-nos contra a generalização desmedida, parece, no entanto, difícil contestar hoje que os principais ramos da indústria agrícola são cada vez mais arrastados no movimento geral. Enfim, o próprio comércio esforça-se por seguir e por refletir, com todas as suas gradações, a infinita diversidade das empresas industriais, e enquanto esta evolução se realiza com uma espontaneidade irrefletida, os economistas, que lhe perscrutam as causas e apreciam os resultados, longe de a condenar e de a combater, proclamam a sua necessidade. Vêem nisso a lei superior das sociedades humanas e a condição do progresso.
Mas a divisão do trabalho não é específica ao mundo econômico; pode-se observar a sua influência crescente nas mais diferentes áreas da sociedade. As funções políticas,
administrativas,