Decifrando os rolezinhos
Denis Lerrer Rosenfield* - O Estado de S.Paulo
A questão dos rolezinhos não deixa de suscitar indagações, com diferentes atores políticos adotando posições segundo as suas próprias conveniências, como se se tratasse de um enigma difícil de decifrar. E assim é porque no Brasil tudo o que foge ao controle governamental ou coloca uma pequena dissidência em relação ao PT ou à mentalidade de esquerda reinante termina se apresentando como um "enigma".
Nas jornadas de junho foi mais fácil distinguir três momentos: a) primeiro, o das manifestações em sua irrupção, caracterizadas por autonomia e espontaneidade, configurando uma expressão legítima da sociedade dizendo não às péssimas condições de mobilidade urbana, saúde e educação. Ressaltava-se uma reação da sociedade, dizendo basta à corrupção e à malversação de recursos públicos; b) segundo, a instrumentalização desses grupos pelos movimentos sociais organizados - MST e organizações afins -, pela CUT e pelo PT, procurando apropriar-se do movimento; c) terceiro, a irrupção da violência, mais conhecida como ação dos black blocs, caracterizada pela ação radical de grupos de extrema esquerda tentando apresentar-se como os verdadeiros protagonistas.
A especificidade dos rolezinhos consiste em que os momentos a e b ocorreram quase simultaneamente, enquanto o c se encontra em gestação, podendo ou não surgir conforme o desenrolar dos acontecimentos. O momento a se caracterizaria pela participação, digamos, espontânea de jovens dos subúrbios, tentando "ocupar" os shopping centers como se fossem lugares públicos equivalentes a ruas e praças. Acontece que essas manifestações foram praticamente simultâneas às dos movimentos sociais organizados, como o dos sem-teto, um braço urbano do MST, e por diferentes grupos de extrema esquerda. Houve, por assim dizer, uma confluência entre esses dois processos, fazendo que coincidissem.
Note-se que nas jornadas de junho os jovens se