copa
"Chamo os nossos jogadores de paus de arara sem nenhuma intenção restritiva. O pau de arara é um tipo social, humano, econômico, psicológico tão válido como outro qualquer. Tem potencialidades inéditas, valores ainda não realizados."
Em 58, na véspera de Brasil x Rússia, entrei na redação. Tiro o paletó, arregaço as mangas e pergunto a um companheiro: — “Quem ganha amanhã?” Vira-se para mim, mascando um pau de fósforo. Responde: — “Ganha a Rússia, porque o brasileiro não tem caráter.”
Eis a opinião dos brasileiros sobre os outros brasileiros: — não temos caráter. Se ele fosse mais compassivo, diria: — “O brasileiro é um mau-caráter.” Vocês entenderam? O mau-caráter tem caráter, mau embora, mas tem. Ao passo que, segundo meu colega, o brasileiro não tem nenhum. Pois bem. No dia seguinte há o jogo e, no seu primeiro lance, Garrincha sai driblando russos e quase entra com bola e tudo.
Vejam: — diante do Brasil, a Rússia perdeu antes da luta. Bastou um momento de Mané para liquidá-la. Mas o que ainda me espanta é a frase do companheiro: — “O brasileiro não tem caráter.” Essa falta de autoestima tem sido a vergonha, sim, tem sido a desventura de todo um povo. Ganhamos em 58, ganhamos em 62. Depois da Suécia e do Chile, seria normal que retocássemos um pouco a nossa imagem. Mas há os recalcitrantes. Outro dia, um colega puxou-me para um canto. Olha para os lados e cochicha: — “Não somos os melhores.” E repetiu, de olho rútilo e lábio trêmulo: — “Não somos os melhores.” E por todas as esquinas e por todos os botecos há patrícios vendendo impotência e frustração.
Quando o escrete partiu [para o México] levando vaias jamais cicatrizadas, vários jornais fizeram uma sinistra impostura. A seleção ia para a guerra. Uma Copa é uma guerra de foice no escuro. Mas parte da nossa imprensa pôs a boca no mundo: — “Humildade, humildade!” Eu pergunto: — o que é o brasileiro? O que tem sido o brasileiro desde Pero Vaz de Caminha? Vamos