Quando somos crianças, fazemos coisas que ficam guardadas para sempre na memória. No meu caso, não consigo esquecer uma brincadeira muito particular: eu pegava alguns objetos, como algum bonequinho velho, moedas de pouco valor, botões de camisa ou recortes de jornal, os fechava dentro de alguma lata, e enterrava no quintal. Era a minha cápsula do tempo, que algum dia no futuro seria aberta por alguém que não viveu a minha época. Aquelas coisinhas sem valor valeriam uma fortuna em um futuro distante, quando alguém as desenterrasse. É claro que, como qualquer criança curiosa, eu mesmo cavava a terra depois de algumas semanas para ver como as coisas estavam. Aprendi que deveria usar materiais como plástico ou vidro para guardar os objetos. Uma garrafa de água mineral era perfeita, porque podia conservar qualquer tipo de coisa debaixo da terra – até mesmo papel. Como minha família mudava-se muito, acabei deixando algumas cápsulas no único lugar em que elas deveriam realmente ficar: debaixo do solo e longe da minha tentação de desenterrá-las. Cresci e, como todo mundo, acabei esquecendo a maioria dos meus sonhos de infância. Até mesmo das cápsulas do tempo. Só fui pensar nelas depois que meu próprio filho, com oito anos de idade, começou a enterrar seus brinquedos no quintal. Eu fiquei atento para saber o que ele escolheria para ficar para a posterioridade, e meus olhos se encheram de lágrimas ao vê-lo pegando meu velho aparelho de barbear e colocando na caixa. Aquilo foi até então o momento que mais orgulho senti, mas ainda assim não interferi em sua brincadeira. Vi que ele escolheu atentamente um objeto de cada pessoa da casa. Além do que me representava, colocou uma fivela de cabelo da mãe e um soldadinho de plástico dele mesmo. Mas teria que aprender por conta própria que uma caixa de sapatos não suportaria a primeira chuva. Algumas semanas depois meu filho já tinha feito a descoberta, porque também não resistiu à tentação de desenterrar