Conhecer, Pesquisar, Escrever
CONHECER, PESQUISAR,
ESCREVER…
Guacira Lopes Louro*
A partir da experiência como pesquisadora e orientadora de dissertações e teses no campo dos estudos de gênero e de sexualidade, discuto alguns desafios envolvidos nas tarefas de conhecer, pesquisar e escrever na perspectiva pós-estruturalista. Assumindo que a linguagem institui um modo de conhecer, enfatizo que o modo como se escreve está estreitamente articulado às escolhas teóricas e políticas que se empreende. Comento algumas das críticas feitas à perspectiva pós-estruturalista e, apoiando-me em exemplos, busco demonstrar armadilhas e possibilidades de escrever em coerência com essa perspectiva e campos teóricos.
Educação, Sociedade & Culturas, nº 25, 2007, 235-245
Palavras-chave: prática de pesquisa, pós-estruturalismo, gênero e sexualidade
Os rótulos incomodam. Eles fixam e aprisionam – ainda que provisoriamente. Por isso os rejeitamos. Contudo, nossos projetos de pesquisa, nossas análises e artigos freqüentemente afirmam, em seus parágrafos iniciais, terem sido produzidos «na perspectiva pós-estruturalista». Imprimimos o rótulo e instalamos uma expectativa; de um modo ou de outro, fazemos uma espécie de «promessa».
Com essas palavras, iniciei um pequeno texto, há alguns anos atrás, destinado a promover a discussão com meus orientandos/as de mestrado e douto*
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (Porto Alegre/Brasil).
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rado a propósito da tarefa acadêmica em que estavam envolvidos: elaborar suas dissertações e teses. A expressão «nossos projetos de pesquisa» constituía-se numa referência direta ao campo em que nos movimentamos: os estudos de gênero e de sexualidade encarados sob a ótica pós-estruturalista. O texto muito breve era constituído de pequenas notas, recomendações ou dicas, e a primeira delas dizia: Ter sempre em mente que a forma como se escreve (ou se fala) está articulada, intimamente, à forma como se pensa e se conhece.