Compreensão Sociologica
1. 1 A REPRESSÃO INSTITUCIONAL E O CONHECIMENTO
“França, Inglaterra e Holanda consideram perfeitamente admissível o trabalho de crianças de 4 anos, e obviamente dos anciãos e enfermos, na indústria e nas manufaturas em geral. Raras vezes se encontra um decreto que afasta as crianças das minas. O horário de trabalho nunca é inferior a 13 horas diárias, e muitas vezes superior. (...) Quando as crianças, com ou sem o consentimento da família, eram colocadas à força nas diversas oficinas e fugiam, eram recapturadas com o auxílio das autoridades.” (HORKHEIMER, 1990 : 203-4)
A mudança social desencadeada pela primeira Revolução Industrial foi algo inaudito. Muitas atrocidades puderam ser recolhidas em registros e conseguiram chegar até nós. Guardam-nas, outras tantas, o passado sofrido de muitos membros da comunidade humana. Com efeito, o capitalismo inicial apenas se consolidou à custa de muitos braços dados à força e ao tempo quase integral. Não existiam regimentos trabalhistas e a vida do operário acabava se consumindo na fábrica, e da forma mais decrépita. Seres foram servos da máquina e do tempo e não poderíamos chamar de humanas essas vidas humanas. Sub-repticiamente, tal mecânica do poder inocula-se nas veias e juntas de todo o organismo social. Trabalho, produção, consumo. A atenção dirigida a essa trilogia foi alavancada pelo aparelho disciplinador do próprio sistema capitalista. A espécie humana toma feições convencionais, capitaliza-se. O estado de afastamento da natureza aprofunda-se e dos parques industriais emerge uma nova espécime, inteiramente diferenciada, que apenas guarda resquícios de sua antecessora. Trata-se de uma criatura automizada, psicologicamente capaz de obedecer servilmente à ideologia do capital. Foi-lhe inoculada a sensação de liberdade mas, no concreto, acha-se presa aos invisíveis laços de uma teia funcional. Ininterruptamente domesticada por forças externas, não se lhe seguiram