cocota linda

Um grupo de turistas estava sentado sobre uma toalha azul e branca quadriculada, ao pé de uma árvore de xixi-de-macaco na Praça da República, no centro de São Paulo, no segundo dia de março.

Os termômetros marcavam 34 graus e uns quebrados. Registrou-se, então, o dia mais quente do mês desde 1943. A megalópole estava mais insuportável do a gente pode não suportar.

Eram quatro mulheres e um cara. Como eu sei que eram turistas? Porque todos eram muito loiros, quase transparentes de tão branco, inclusive a cor dos cabelos. Além disso, faziam um piquenique no meio da praça decrépita.

Chamava muito a atenção de quem passava. Eu estava com a Catôta, que tentou chegar perto da toalha, para abocanhar algum quitute. De longe, vi um pacote de pão integral 12 grãos, uns pepinos cortados em rodelas, tomates, fatias de melancia, queijos, caixas de água de coco. Eles riam e tiravam fotos. Tudo bem discreto.

Quem passava ao lado do grupo olhava incrédulo para eles.

Eu fui um deles. Pensei na hora: 'putz, coitado dos gringos. Aguentando esse calor nessa praça de merda, fazendo piquenique no meio da desgraça'.

Fui interrompido pela Catôta, que comia um pedaço de osso que alguém havia jogado no meio do gramado. Sempre tem uns ossos caprichados, geralmente de porco, depois dos finais de semana.

Voltei para casa pensando na situação das galegas.

O curioso é que do lado do pé de xixi-de-macaco em que brindavam os estrangeiros há um coreto, igual aos que tem nas praças de Patos-PB (mas lá serve como point para juventude abastada do alto sertão paraibano).

O coreto da República, contudo, é o hub dos drogados da região. Ali eles param, descansam, abastecem os bolsos e voltam às ruas. Os doidões estão há tanto tempo no lugar que já fazem parte da paisagem e, embora seja muito mais impactante do que a imagem dos gringos em um local bucólico no centro, ninguém repara neles.

A pobrezinha da praça, que tinha tudo para ser um oásis no centro nevrálgico de são