Classe média até voçe?
As incursões organizadas de jovens de periferia aos shoppings das grandes capitais estão provocando um candente debate nacional sobre temas controversos como limites do direito de manifestação, discriminação social e racial, luta de classes e repressão policial. Os chamados rolezinhos são, antes de tudo, um fenômeno novo gerado pelo poder de mobilização das redes sociais, que guardam algumas semelhanças com os protestos de rua que surpreenderam o país em junho do ano passado.
Da mesma forma, envolvem muitas pessoas pacíficas e bem-intencionadas, mas também oportunistas que se escondem na multidão para transgredir. E é justamente pela sua ambiguidade que o movimento precisa ser tratado com cautela e racionalidade. O país precisa encontrar um caminho de convivência em que todos os direitos sejam respeitados – tanto o de ir e vir, ameaçado pelos defensores da repressão aos jovens, quanto o de desfrutar da ordem pública, garantido a todos os cidadãos.
Os grandes centros de consumo foram idealizados justamente para oferecer conforto e segurança aos frequentadores, independentemente da sua condição social, da cor da pele ou do poder aquisitivo. São espaços privados de uso público, que não podem servir de palco para a segregação nem para a intimidação de ninguém. Ambas as ações são incompatíveis com os direitos humanos e com as garantias individuais asseguradas pela Constituição brasileira.
Ninguém pode impedir que jovens e adolescentes oriundos da periferia frequentem os mesmos locais habitualmente frequentados por consumidores melhor situados na escala social. Porém, em nome dessa almejada igualdade, não se pode aceitar que grupos de indivíduos promovam desordens, correrias e agressões que possam constranger ou colocar em risco a própria integridade e a de outras pessoas. O temor de arrastões também é compreensível, pois os brasileiros já viram repetidas vezes este