Ciência e técnica
“...Sabem todos que a técnica é uma aplicação da ciência e, mais particularmente, sendo a ciência especulação pura, a técnica surgirá como o ponto de contato entre a realidade material e o resultado científico, mas também como resultado experimental, como aplicação das provas, que serão adaptadas à vida prática.
Essa ideia tradicional é radicalmente falsa. Não explica senão uma categoria científica e durante breve lapso de tempo: só é verdadeira para as ciências físicas e para o século XIX. Não se pode, pois, de modo algum, fundar nessa ideia uma consideração de ordem geral, quer dizer, como o estamos tentando, uma visão atual da situação.
Do ponto de vista histórico, uma simples observação destruirá a segurança dessas soluções: historicamente, a técnica precedeu a ciência, pois o homem primitivo conheceu técnicas. Na civilização helênica, foram as técnicas orientais que chegaram em primeiro lugar, não derivadas da ciência grega. Logo, historicamente, a relação ciência-técnica deve ser invertida.
A técnica, no entanto, só receberá seu impulso histórico após a intervenção da ciência. A técnica deverá, então, esperar pelo progresso da ciência. Nessa perspectiva histórica, observa com razão Gille: "A técnica, por suas repetidas experiências, propôs os problemas, revelou as noções e os primeiros elementos cifrados, mas precisa esperar as soluções" que vêm da ciência.
Quando se fala, no domínio da ciência histórica, de técnica histórica, é todo um trabalho de preparação que assim se designa: pesquisa dos textos, leitura, restauração dos monumentos, crítica e exegese, todo um conjunto de operações técnicas que devem chegar à interpretação, em seguida à síntese histórica, que é o verdadeiro trabalho científico. Encontramos aqui, portanto, uma precedência da técnica.
Sabe-se, aliás, que em certos casos, mesmo em física, que a técnica precede a ciência. O exemplo mais conhecido é o da máquina a vapor. É uma pura realização do gênio experimental: a