Cinema
Vencedor de cinco prêmios no Cine Ceará de 2011, onde teve sua primeira exibição, o longa Mãe e Filha, do cearense Petrus Cariry (O Grão), sagrou-se grande vencedor do festival e, de quebra, ainda faturou o prêmio da crítica.
Não compartilho do entusiasmo que o filme provocou em alguns colegas. De fato Mãe e Filha é um trabalho recheado de belíssimas imagens muito bem enquadradas e fotografadas, mas esse esmero com a plástica não se estendeu à força de sua trama, que exagera nos simbolismos vagos e tediosos e faz da obra de Cariry um filme pretensioso demais.
Autoral até a medula - Petrus escreveu, dirigiu, produziu e fez câmera – Mãe e Filha é contemplativo e parcimonioso em sua narrativa, que conta a história de uma mulher que saiu do interior para a capital Fortaleza e não deu notícias por 20 anos. Ela volta à cidadezinha do sertão onde nasceu, um lugarejo fantasma, repleto de ruínas e lembranças, onde pretende que a mãe batize e enterre o filho natimorto.
São muito poucos os diálogos no filme, a maioria das falas são monólogos da avó que reflete sobre o significado da dupla maternidade e resiste a aceitar a vida que se encerrou, antes mesmo de começar, do neto. Mesmo assim um duelo sensorial carregado de muita tensão se estabelece entre elas. Para haver vida, afinal, é preciso a morte, o ciclo precisa ser completado.
Não há no longa a intenção de brindar o espectador com respostas ligeiras. A câmera contempla os cenários e os personagens e cabe ao espectador - hoje mal habituado a receber tudo mastigado – o exercício da análise e da reflexão. Metafórico e carregado de um teor místico e religioso, o filme transita entre realidade e fantasia num espetáculo de morbidez por vezes exagerado. As resignações, a estranheza entre mãe e filha, o neto morto e os vaqueiros do apocalipse, tudo é mostrado como peças de um jogo de abstração que termina por cansar o espectador a certa altura.
A compensação está no fascínio e beleza