Cidademoderna
Denise Azevedo Duarte Guimarães
Dra.em Estudos Literários. Mst. em Teoria da Literatura. Professora Aposentada pela UFPr. Leciona na UTP.
Como fazer uma cidade?
Com que elementos tecê-la? Quantos fogos terá?
Nunca se sabe, as cidades crescem, mergulham no campo, tornam a aparecer. (Carlos Drummond de Andrade)
Introdução
Desde o séc. XVIII, quando os philosophes redefiniram o contrato social e os pensamentos de Voltaire foram divulgados, Paris passou a ser o centro mundial gerador de idéias, de maneirismos, modas e vogas, assumindo o status de cidade grande: a "Cidade Luz". No decorrer do séc. XIX, a paixão pela novidade dos parisienses corresponde à variedade da capital francesa, espaço ideal ao surgimento da modernidade. Terra de distrações, prazeres e novidades, Paris é o berço natural do flâneur - um passeador sem rumo, que se deixa guiar apenas pelos caprichos ou pela curiosidade, até perder-se na multidão.
A capital francesa, diferentemente das outras metrópoles mundiais, ainda hoje é um mundo para ser visto pelo andarilho urbano, com seu passo ocioso, tentando apreender-lhe os preciosos detalhes. Já em 1577, segundo Edmund White, um viajante italiano disse que o passatempo favorito dos parisienses era olhar o ir-e-vir das pessoas, o que explicaria uma linhagem de flânerie na literatura francesa. Decorrentes das anotações de escritores que vagavam pela grande cidade, essas "pesquisas" eram desordenadas e fragmentadas. É isto que faz Baudelaire, no séc. XIX, o flâneur consumado: como artista moderno, mergulha na multidão e dali recolhe as impressões que joga no papel. Imerso no fluxo aleatório da paisagem urbana, como observador apaixonado, o poeta fixa residência na multiplicidade "em tudo que se agita e que se move, evanescente e infinito, (...).O diletante da vida entra na multidão como num imenso reservatório de eletricidade." (Grifo meu. In: WHITE, 2001. p.46)