Choderlos De Laclos As Relac O Es Perigosas

Choderlos de Laclos

As relações perigosas

Em 1782, a meros sete anos da Queda da Bastilha, Pierre
Choderlos de Laclos (1741-1803) assombrou a França com um romance epistolar repleto de retratos pouco lisonjeiros da nobreza.
Em Les liaisons dangereuses ou Lettres recueillies dans une société et publiées pour l’instruction de quelques autres [As relações perigosas ou Cartas recolhidas de uma sociedade e publicadas visando à instrução de outras], marquesas, duquesas, condes, viscondes, cavalheiros e damas pertencentes a linhagens ilustres divertem-se em variados convescotes sociais; na discrição das alcovas, os mesmos aristocratas se entregam às mais perversas imoralidades. Como assinala Helen Constantine na introdução a esta nova edição, acredita-se que a repercussão do livro foi de tal ordem que tenha contribuído para acirrar o clima de insatisfação popular com a monarquia que resultou na deposição do rei Luís XVI.
Tal como As bodas de Fígaro e Don Giovanni, óperas de W. A.
Mozart estreadas em Viena em 1786-87, As relações perigosas sugere que o destino não tarda a punir os fidalgos libertinos que brincam de deuses em suas maquinações licenciosas. À maneira do conde de
Almaviva e do Don Juan dos ousados libretos de Lorenzo da Ponte, a marquesa de Merteuil e o visconde de Valmont experimentam as consequências calamitosas de seus crimes e velhacarias.
Olhando em retrospectiva, pode-se pensar que se trata de uma espécie de prelúdio dos acontecimentos políticos do final do século.
Contudo, à época da escrita do livro, Laclos não era um radical subversivo ou um libertino à la marquês de Sade. Embora se tenha integrado ao partido jacobino em 1790 e prestado relevantes serviços durante as guerras napoleônicas, esse engenheiro de fortificações e fino homem de sociedade era, no começo da década de 1780, um respeitável funcionário do ancien régime. Enquanto se deslocava de
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guarnição em guarnição como oficial de artilharia do exército real,
Laclos havia publicado alguns