China
No início do século 20, a China era chamada de “o homem doente da Ásia” – alusão à profunda crise econômica, social, política, cultural e espiritual que fazia dela o prato favorito no banquete das grandes potências imperialistas.
Um século depois, início do século 21, a nação chinesa vive uma arrancada desenvolvimentista que poderá transformá-la na única superpotência do mundo, além dos Estados Unidos. Nos cem anos que decorreram entre as duas situações, o país viveu uma das experiências mais ricas e conturbadas da história contemporânea: a derrocada da ordem tradicional, a revolução republicana, a fermentação de ideologias radicais, a guerra civil, a luta contra a invasão japonesa, a revolução popular, o envolvimento no conflito da Coréia, os saltos e sobressaltos da industrialização e da reforma agrária, os usos e abusos da revolução cultural, o culto à personalidade de Mao Tsé-tung, a abertura da economia, os gigantescos projetos de modernização.
Essa saga grandiosa e complexa é o objeto do presente texto.
O impacto colonialista (1839-1911)
Depois de cinco milênios de história contínua e esplêndidas realizações nos campos da filosofia, das ciências, da tecnologia, das artes e da gestão pública, a China chegou ao século 19 esgotada. Ao cabo de um prolongado período de estagnação e decadência, sua antiquada estrutura econômica, social, política e cultural mostrava-se incapaz de resistir à nova ordem que o capitalismo havia introduzido na Europa e na América do Norte. Isolados do mundo no interior da Cidade Proibida, em Pequim, cercados de um luxo sem paralelo e sobrecarregados por pesadas regras de etiqueta e protocolo, os derradeiros imperadores da dinastia Qing ou Manchú (considerados estrangeiros pela população chinesa, que, em sua maioria, pertence à etnia Han), mantinham-se alheios à agonia do Império. A administração afundava na defesa de privilégios, na rigidez burocrática e no imobilismo.
O país possuía, porém, riquezas imensas, despertando