China
A China, dado o intenso e acelerado processo de transformação econômica e social, constitui rico laboratório para o estudo de várias áreas das ciências sociais. O presente artigo focou em uma dessas áreas, relacionada ao modelo econômico e a relação muito particular desenvolvida entre o Estado e o mercado. O intenso desenvolvimento econômico, verificado nos últimos 30 anos, deveu-se às potencialidades representadas pela liberalização das forças de mercado. Mas dependeu também de certo grau de capacidade estatal, responsável pela correção das falhas de mercado, pela condução bem-sucedida do processo de transição e pelas medidas de estímulo à atividade econômica. Apesar dos bons resultados até o momento, esta combinação tem importantes implicações e armadilhas.
O modelo chinês replica, em diversas situações, as características dos Developmental States existentes em países da Ásia em períodos anteriores. A capacidade de ação do Estado e a sua força em relação aos grupos sociais são fundamentais para entender o êxito da transição e a capacidade de implementar certas reformas e de constituir certos pré-requisitos para o funcionamento de uma economia de mercado. Destaca-se também a capacidade de as autoridades chinesas estimularem certos setores, preservarem bons fundamentos econômicos e garantirem a ordem social. A especificidade chinesa é apresentar tal capacidade de intervenção em um contexto bem particular do capitalismo, marcado por maior integração econômica e financeira e por menores graus de liberdade conferidos à intervenção estatal.
Há, no entanto, o outro lado da forte intervenção estatal. As relações entre o Estado e aeconomia são fluidas e há grande imbricação entre os interesses do partido e a gestão das empresas. Por sua vez, faltam uma cultura e instituições que garantam o respeito à lei e aos direitos dos cidadãos, sendo a corrupção uma prática recorrente. O executivo é muito forte, o judiciário ão é independente, e falta uma estrutura de