Quem nunca construiu em sua mente uma sociedade perfeita, infalível em funcionamento e estrutura? Todos os Que almejam mais de si mesmo e do mundo devem ter se rendido àtécnica da idealização. Platão faz o mesmo em sua República. Idealiza uma sociedade perfeita, harmônica, simbiótica. Para isso lança mão da alegoria da caverna, que põe em xeque um par de distinções muitoligado à natureza da alma do ser humano: é o par essência e aparência, representados, respectivamente, pelo mundo inteligível e pelo mundo sensível. Platão utiliza, para desenvolver a dicotomiaaparência/ideias, dois mecanismos bastante peculiares e acessórios ao desenvolvimento retórico-filosófico, a saber: a dialética e a alegoria, cuja conceituação se dará a seguir. A dialética é, segundo Platão,o único meio de levar o filósofo até o Bem, já que consiste em estender os limites lógicos das reflexões filosófico-ideológicas. Este "estender" implica submeter o próprio pensamento às opiniões e/oucontradições de outrem ? justamente o que acontece n'A República, onde há um constante diálogo entre, por exemplo, Sócrates e Glauco. Já a alegoria representa um papel ainda mais relevante na difusãodo axioma filosófico proposto. Conceituada, grosso modo, como um conjunto interligado de metáforas, ela se manifesta de maneira mais relevante no "mito da caverna"(livro VII).Nele, Platão cria doisplanos: "a caverna" e "o dia", cada qual com seus elementos específicos. A caverna, que representa o mundo sensível, é composta pelos seguintes elementos: a sombra das marionetes, as marionetes e o fogo(respectivamente representando as sombras do real, a realidade e o Sol) O dia (metáfora do mundo inteligível), por sua vez, também é composto por três elementos, sendo eles as sombras e reflexos, arealidade e o Sol (que representam, também respectivamente, as sombras das ideias, as ideias propriamente ditas e o Bem).Construída esta alegoria, Platão ressalta a necessidade de sair da caverna e...