Caso Condor
Professora do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Introdução
Desde meados da década de 1930, o Departamento de Estado norteamericano vinha criando agências para promover, além-mar, a produção industrial estadunidense. Nelas eram alocados funcionários qualificados em tarefas de inteligência com o fim de monitorar e captar mercados. Alguns desses braços se estenderam na direção da América Latina, um espaço promissor à espera de investidores, o qual, no final da década, acabou por se tornar inalcançável para os europeus. A oportunidade de expandir-se, vislumbrada na Primeira Guerra, foi aproveitada, portanto, na Segunda.1
O esforço para penetrar no dinâmico mercado de aviação e de transporte aéreo da região amparou-se em pressões para estabelecer alianças com alguns governos latino-americanos. Ajustou-se ao argumento de que a aviação comercial era, no contexto da guerra, um meio para espionagem e agressão ao continente. Isso serviu também de justificativa para o uso de mecanismos de controle, como as eficazes Listas Negras.2 Por meio delas, bloqueava-se capital dos países do Eixo, assim como atividade de técnicos e acionistas, mesmo os naturalizados ou residentes, ou qualquer um que possuísse ligações, reais ou supostas, com o Eixo. Isso obrigou fornecedores, compradores e seguradoras a cortar relações comerciais com os bloqueados. Para sobreviver no mercado, a opção era negociar exclusivamente com os Aliados. A lenta asfixia e a sujeição de tais empresas foram mantidas de forma rígida, principalmente pelos Estados Unidos, que tinham maior capacidade de pressão, aparato organizado e apoio bem concertado de suas embaixadas e de agentes especiais ligados a vários órgãos do Estado.
A empresa de transporte aéreo Condor, embora obedecesse à legislação