Capitulo 5 - Livro Amanhecer da Esperança, Miriam Leitão
O final do regime militar fora de recessão e desemprego. A oposição acabara de assumir o poder nos principais estados do país, mas não tinha ainda o poder federal, não sabia o que fazer com toda aquela revolta que se virava até contra ela. Sarney estava quase completando um ano de mandato e sua popularidade era cada vez mais baixa. Em parte porque a política econômica era igualzinha à do governo anterior. As novas ideias tinham estado em debate interno nas equipes da Fazenda, Planejamento e Banco Central, mas o presidente não quisera arriscar.
Mercadorias e serviços deixavam de ser sonho de consumo e se incorporavam aos hábitos. O fenômeno ia dos alimentos aos produtos de limpeza, dos eletrônicos à cultura. O Plano Cruzado e a queda brusca da inflação também tinham transformado o presidente José Sarney: de sapo em príncipe. O país, que o havia aceitado como último sacrifício tolerado para se chegar à democracia, e diante do irrecorrível da morte de Tancredo, agora cerrava fileiras ao seu lado.
Havia muito caminho pela frente e várias pedras a remover. Uma delas bloqueava qualquer avanço: a desordem fiscal do Brasil. Mas, como nessa história da busca de uma moeda estável há sempre avanços, inclusive nos planos que fracassaram, o Cruzado deixou como herança pedras fundamentais para a construção de uma nova ordem fiscal.