CAP TULO 3 Alimentos e bebidas do Antigo Egito Edda Bresciani
3819 palavras
16 páginas
CAPÍTULO 3Alimentos e bebidas do Antigo Egito por
Edda Bresciani
Na escrita hieroglífica, um mesmo signo — um homem levando a mão ã. boca — significa tanto “falar” quanto “comer". Portanto, os antigas egípcios tinham consciência da ligação entre estas duas “oralidades"1, a emissão de palavras e a absorção de alimentos, e da relação primordial que existe, entre a vida e a nutrição, a ponto de os termos serem quase sinônimos na linguagem “real", assim como metafórica*.
A saúde e a longevidade dependiam, no seu ponto de vista, dos prazeres da mesa. Se os
“ensinamentos morais" dos sábios recomendavam controlar a higiene alimentar — “Não se pode encontrar melhor alimento que os legumes com sal", afirma o autor da Instrução XX do papiro Insinger V demótico — o senso comum, todavia, preconizava que a pessoa que comesse muito não poderia deixar de ter boa saúde. O papiro Westcar descreve, por exemplo, o mágico Gedi como um homem de cento e dez anos (a idade ideal, um topos biográfico no antigo Egito), que comia todos os dias quinhentos pedaços de pão e meto boi, que engolia cem bilhas de cerveja e que, por Isso, tinha grande vigor, nunca sofria de insônia e não tinha tosse. A inapetência, ao contrário, era sinal de doença, às vezes, até muito grave e fatal, como a que acometeu o faraó do Conto do mago Merira. O faraó nunca deixava de comer durante a noite, porque tinha excelente apetite. Eis que sucedeu que, uma noite, o faraó deixou a comida preparada para sua ceia habitual, porque, em sua boca, os alimentos sabiam a lama e as bebidas tinham gosto de água. Como não tinha mais apetite nem sono e como suas roupas estavam cada dia mais folgadas e ele parecia um homem recém saído da água, o faraó mandou chamar todos os seus magos“.
UMA ALÍMENTAÇÂO VARIADA
Em um texto fúnebre do século I a.C., o papiro Rhind, os quatro "vasos canopos" — ou seja, os quatro espíritos que governam as vísceras do homem — regozijam-se do bom tratamento que receberam: “Ele não nos maltratou