canção
Lá estava a tabuleta, por sinal que coberta com um pedaço de chita; alguns rapazes que a tinham visto, ao passar na rua, quiseram rasgá-la; o pintor, depois de a defender com boas palavras, achou mais eficaz cobri-la. Levantada a cortina, Custódio leu: "Confeitaria do Império". Era o nome antigo, o próprio, o célebre, mas era a destruição agora; não podia conservar um dia a tabuleta, ainda que fosse em beco escuro, quanto mais na Rua do Catete... -- O senhor vai despintar tudo isto, disse ele. -- Não entendo. Quer dizer que o senhor paga primeiro a despesa. Depois, pinto outra cousa. -- Mas que perde o senhor em substituir a última palavra por outra? A primeira pode ficar, e mesmo o d... Não leu o meu bilhete? -- Chegou tarde. -- E por que pintou, depois de tão graves acontecimentos? -- O senhor tinha pressa, e eu acordei às cinco e meia para servilo. Quando me deram as notícias, a tabuleta estava pronta (...)
Custódio quis repudiar a obra, mas o pintor ameaçou de pôr o número da confeitaria e o nome do dono na tabuleta, e expô-la assim, para que os revolucionários lhe fossem quebrar as vidraças do Catete. Não teve remédio senão capitular. Que esperasse: ia pensar na substituição. Que nome lhe poria agora? Nisso lembrou-lhe o vizinho Aires e correu a ouvi-lo.
-- Mas o que é que há? perguntou Aires. -- A república está proclamada.
-- Já há governo?
-- Penso que já (...). Ajude-me a sair deste embaraço. A tabuleta está pronta, o nome todo pintado.
- "Confeitaria do Império", a tinta é viva e bonita.
1. O texto a cima, extraído do romance Esaú e Jacó, de Machado de Assis, mostra que as pessoas do povo não haviam participado do processo de implantação do novo regime e, por isso, muitas não acreditavam que realmente houvera uma mudança, pensando ser apenas algo passageiro. Agora que você estudou melhor esse contexto, podemos aprofundar a interpretação do texto.
a) De acordo com o texto, Custódio, o dono da confeitaria, ficou abalado ao ler